Guardas municipais viram réus por chamarem jovens de 'seus viados' durante abordagem no litoral de SP
Um dos jovens teve a roupa rasgada durante a revista que afirmou ter sido violentado na rodoviária de São Vicente (SP). A defesa dos guardas disse que a abordagem ocorreu porque existiu fundada suspeita. Jovem gay relatou que teve roupa rasgada durante abordagem e que foi chamado de "viado", além de que GCM jogou seu celular no chão Arquivo pessoal O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) acatou a denúncia e tornou réu dois agentes da Guarda Civil Municipal (GCM) de São Vicente (SP), que trataram dois jovens gays e uma transexual de forma homofóbica durante uma abordagem na rodoviária da cidade. As vítimas relataram que foram chamadas de 'seus viados' e 'seus pu***' pelos agentes da corporação. ✅ Clique aqui para seguir o novo canal do g1 Santos no WhatsApp. No documento obtido pelo g1, nesta quinta-feira (8), a juíza do Foro de São Vicente, Thais Cristina Monteiro Costa Namba, recebeu a denúncia contra os guardas civis municipais para a abertura de ação penal para crimes resultante de preconceito de raça ou de cor. Procurada, a advogada de defesa dos réus, Lilian Arede Lino, disse que os clientes não devem e não têm motivo para saírem da corporação, pois 'exerceram o trabalho deles, tal como foi feita a abordagem', que, de acordo com ela, ocorreu por existiu fundada suspeita. O que diz a prefeitura? Em nota, a Prefeitura de São Vicente, por meio da Secretaria de Assuntos Jurídicos (Sejur), informou que foi instaurado um processo junto à Corregedoria da Guarda Civil Municipal (GCM) para apurar a denúncia na época em que foi feita e que, devido à ausência de evidências, o mesmo foi arquivado. A pasta ressaltou que os guardas são réus em um processo judicial de natureza criminal, no qual a administração municipal não é parte. Ainda segundo a secretaria, a conclusão do procedimento judicial é imprescindível para que sejam observados os princípios administrativos e constitucionais, em especial o princípio da presunção de inocência, previsto no artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal do Brasil, que estabelece que "ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória". A administração municipal disse que, como estratégia preventiva, são realizados treinamentos e capacitações com os agentes, inclusive com o apoio do Governo de São Paulo que, à época, esteve em São Vicente para um ciclo de palestras. A Prefeitura de São Vicente salientou que repudia qualquer ato de discriminação, seja por orientação sexual, cor, religião ou qualquer outra razão, e segue à disposição para prestar os devidos esclarecimentos às autoridades competentes. Relembre o caso Testemunha em ônibus registrou parte de abordagem da GCM com jovens Arquivo Pessoal A situação ocorreu em 15 de julho de 2021. À época, João Pedro da Silva Loureiro e Luanderson Almeida Leite estavam na rodoviária esperando o ônibus da amiga Nathalia Lima, que voltaria para Sorocaba, cidade onde mora. Enquanto aguardavam juntos o horário de partida do veículo, três guardas municipais, sendo dois homens - um uniformizado e outro não, e uma mulher, chegaram ao local. O grupo estava com a ponta de uma maconha e os agentes viram. De acordo com João, antes disso, os guardas já estavam olhando fixamente para eles. Ele, inclusive, disse que estava com medo da situação. Em seguida, os profissionais passaram a gritar e ofendê-los na frente de todos que estavam no local dizendo 'seus viados' e 'seus put**'. Ele relatou que os agentes de segurança estavam com as armas nas mãos o tempo todo e que, enquanto os três eram xingados, os guardas homens pegaram a mochila de Nathalia e passaram a esvaziá-la, jogando tudo o que tinha no chão, como objetos, maquiagens, roupas gerais e íntimas. "Nesse momento, eles perguntaram para mim e para o meu amigo se éramos transformistas. Relatamos que era da Nathalia, nossa amiga, e que ela era transexual e retornaria para a cidade dela. Nesse momento, eles falaram 'então é tudo viado', e que ela 'devia ir dar o c* em outro local, bem longe de São Vicente'", contou João. Jovens denunciam GCM de São Vicente e alegam terem sido vítimas de preconceito Para ele, a revista foi feita de forma violenta, pois a camisa dele chegou a rasgar com a abordagem truculenta dos agentes, que teriam obrigado Nathalia a tirar a gata dela que estava na caixinha de transporte para revistar. O animal teria sido jogado no chão. "O meu amigo, Luarderson, ainda teve seus dedos pressionados com muita força por um dos guardas na hora da revista. Fomos empurrados e chutados por eles para separarmos as pernas, para sermos revistados, foi uma forma bem agressiva. Ainda jogaram o meu celular no chão, então, não consegui filmar nada", contou. De acordo com João, que relatou o ocorrido nas redes sociais, a guarda mulher foi a única que não os ofendeu e nem os xingou em nenhum momento. "Eles não pediram nossos documentos para registrar a abordagem, ou seja, o objetivo deles foi só nos humilhar e nos constra
Um dos jovens teve a roupa rasgada durante a revista que afirmou ter sido violentado na rodoviária de São Vicente (SP). A defesa dos guardas disse que a abordagem ocorreu porque existiu fundada suspeita. Jovem gay relatou que teve roupa rasgada durante abordagem e que foi chamado de "viado", além de que GCM jogou seu celular no chão Arquivo pessoal O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) acatou a denúncia e tornou réu dois agentes da Guarda Civil Municipal (GCM) de São Vicente (SP), que trataram dois jovens gays e uma transexual de forma homofóbica durante uma abordagem na rodoviária da cidade. As vítimas relataram que foram chamadas de 'seus viados' e 'seus pu***' pelos agentes da corporação. ✅ Clique aqui para seguir o novo canal do g1 Santos no WhatsApp. No documento obtido pelo g1, nesta quinta-feira (8), a juíza do Foro de São Vicente, Thais Cristina Monteiro Costa Namba, recebeu a denúncia contra os guardas civis municipais para a abertura de ação penal para crimes resultante de preconceito de raça ou de cor. Procurada, a advogada de defesa dos réus, Lilian Arede Lino, disse que os clientes não devem e não têm motivo para saírem da corporação, pois 'exerceram o trabalho deles, tal como foi feita a abordagem', que, de acordo com ela, ocorreu por existiu fundada suspeita. O que diz a prefeitura? Em nota, a Prefeitura de São Vicente, por meio da Secretaria de Assuntos Jurídicos (Sejur), informou que foi instaurado um processo junto à Corregedoria da Guarda Civil Municipal (GCM) para apurar a denúncia na época em que foi feita e que, devido à ausência de evidências, o mesmo foi arquivado. A pasta ressaltou que os guardas são réus em um processo judicial de natureza criminal, no qual a administração municipal não é parte. Ainda segundo a secretaria, a conclusão do procedimento judicial é imprescindível para que sejam observados os princípios administrativos e constitucionais, em especial o princípio da presunção de inocência, previsto no artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal do Brasil, que estabelece que "ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória". A administração municipal disse que, como estratégia preventiva, são realizados treinamentos e capacitações com os agentes, inclusive com o apoio do Governo de São Paulo que, à época, esteve em São Vicente para um ciclo de palestras. A Prefeitura de São Vicente salientou que repudia qualquer ato de discriminação, seja por orientação sexual, cor, religião ou qualquer outra razão, e segue à disposição para prestar os devidos esclarecimentos às autoridades competentes. Relembre o caso Testemunha em ônibus registrou parte de abordagem da GCM com jovens Arquivo Pessoal A situação ocorreu em 15 de julho de 2021. À época, João Pedro da Silva Loureiro e Luanderson Almeida Leite estavam na rodoviária esperando o ônibus da amiga Nathalia Lima, que voltaria para Sorocaba, cidade onde mora. Enquanto aguardavam juntos o horário de partida do veículo, três guardas municipais, sendo dois homens - um uniformizado e outro não, e uma mulher, chegaram ao local. O grupo estava com a ponta de uma maconha e os agentes viram. De acordo com João, antes disso, os guardas já estavam olhando fixamente para eles. Ele, inclusive, disse que estava com medo da situação. Em seguida, os profissionais passaram a gritar e ofendê-los na frente de todos que estavam no local dizendo 'seus viados' e 'seus put**'. Ele relatou que os agentes de segurança estavam com as armas nas mãos o tempo todo e que, enquanto os três eram xingados, os guardas homens pegaram a mochila de Nathalia e passaram a esvaziá-la, jogando tudo o que tinha no chão, como objetos, maquiagens, roupas gerais e íntimas. "Nesse momento, eles perguntaram para mim e para o meu amigo se éramos transformistas. Relatamos que era da Nathalia, nossa amiga, e que ela era transexual e retornaria para a cidade dela. Nesse momento, eles falaram 'então é tudo viado', e que ela 'devia ir dar o c* em outro local, bem longe de São Vicente'", contou João. Jovens denunciam GCM de São Vicente e alegam terem sido vítimas de preconceito Para ele, a revista foi feita de forma violenta, pois a camisa dele chegou a rasgar com a abordagem truculenta dos agentes, que teriam obrigado Nathalia a tirar a gata dela que estava na caixinha de transporte para revistar. O animal teria sido jogado no chão. "O meu amigo, Luarderson, ainda teve seus dedos pressionados com muita força por um dos guardas na hora da revista. Fomos empurrados e chutados por eles para separarmos as pernas, para sermos revistados, foi uma forma bem agressiva. Ainda jogaram o meu celular no chão, então, não consegui filmar nada", contou. De acordo com João, que relatou o ocorrido nas redes sociais, a guarda mulher foi a única que não os ofendeu e nem os xingou em nenhum momento. "Eles não pediram nossos documentos para registrar a abordagem, ou seja, o objetivo deles foi só nos humilhar e nos constranger. "Eu me senti um lixo, todos ficamos muito mal, fizeram tudo isso e não acharam nada nas nossas coisas. É muito dolorido sofrer homofobia, ainda mais por parte de pessoas que deveriam garantir nossa segurança, isso nos deixa com medo e oprimidos. Por isso, postei o ocorrido na rede social, não podemos mais no calar diante do preconceito", disse João. VÍDEOS: g1 em 1 Minuto Santos