Por que a Covid-19 ainda preocupa os especialistas no Brasil?
Há quase três anos da confirmação do primeiro caso de Covid-19 no Brasil — dia 26 de fevereiro de 2020 —, o país se encontra em uma das melhores situações epidemiológicas desde o início da pandemia do coronavírus.
A média diária de mortes é de 90 pessoas, com tendência de queda. Dados da última quinta-feira (12) das Secretarias Municipais de Saúde mostram 19.070 novos infectados no país.
No entanto, especialistas ainda alertam para alguns fatores que merecem atenção, principalmente devido à circulação do vírus, que segue em curso por aqui, e à possibilidade real do surgimento de variantes.
"O Sars-CoV-2 é um vírus muito instável, sempre sofre mutações. Portanto, a experiência que tivemos com esse vírus anteriormente, que nos deu imunidade, vai dar imunidade mais forte àquela cepa que nos infectou", explica o epidemiologista e professor da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo) Eliseu Waldman.
A partir das mutações do agente infeccioso, a população não está totalmente imune, conforme acrescenta o epidemiologista.
"Se tem novas cepas, estaremos parcialmente vulneráveis, que é mais ou menos o que acontece com o influenza, que é o vírus da gripe."
A última cepa, descoberta em dezembro de 2022 e que já tem registro no Brasil, é a XBB.1.5, subvariante da Ômicron.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) considera essa a mais transmissível até agora. O infectologista do HC-SP (Hospital das Clínicas de São Paulo) e membro da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) Max Igor Lopes afirma que "o vírus evolui, e a cada hora vai aparecer uma variante com a ideia de escapar da resposta imune".
Desde o surgimento da Ômicron, no fim de 2021, já com a vacinação avançada no Brasil, o país enfrentou dois grandes surtos, com aumento no número de casos, internações e mortes.
A imprevisibilidade do vírus mostra que a vigilância precisa ser mantida. "Temos de continuar monitorando os casos, vendo a frequência de internação e de diagnósticos de Covid-19, porque a doença é imprevisível, pelo que vimos até agora, então é possível que em algum momento possa ter algum aumento, algum incremento", alerta o infectologista.
E acrescenta: "Se tem maior número de internação e de complicações, as pessoas precisam estar alertas, pois há algum problema".
Nos dois surtos após o começo da campanha de vacinação, as pessoas mais afetadas pelos casos graves da doença foram aquelas sem imunização completa, os idosos e imunodeprimidos — esses dois fazem parte do grupo de maior risco da doença.
Esse dado mostra quanto a vacinação completa é importante para evitar a hospitalização e a morte. De acordo com dados do Ministério da Saúde, até sexta-feira, apenas 40.891.092 de brasileiros receberam as quatro doses.
Os números da vacinação infantil são ainda mais graves. De 6 meses a 2 anos, pouco mais de 39 mil crianças receberam duas doses. Na faixa etária de 3 a 4 anos, cerca de 584 mil brasileiros têm a imunização com duas aplicações. De 5 a 11 anos, 10.606.139 tomaram duas doses da vacina, mas somente 5.838 voltaram aos postos para a dose de reforço.
"Quem ainda não tem as quatro doses precisa tomar as quatro. É importante também levar as crianças, porque a adesão está muito baixa. A probabilidade de a doença ser grave nas crianças é bem menor do que em idosos, mas tivemos momentos de internação de crianças. Na verdade, se tem como evitar, é preciso evitar", diz Waldman.
Vacinas bivalentes
Com relação à vacinação, a baixa aplicação de imunizantes atualizados, que protegem contra a Ômicron e as subvariantes, é um fator de atenção.
De acordo com o Ministério da Saúde, até o segundo trimestre do ano passado, o Brasil tinha 69 milhões de doses da Pfizer atualizadas. Até agora, chegaram 7,4 milhões de unidades.
A secretária de Vigilância de Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Ethel Maciel, negocia a antecipação dos lotes com a farmacêutica.
Quem nunca foi infectado com a Covid
Embora muitas pessoas já tenham tido contato com o vírus, quem nunca pegou Covid deve aumentar a atenção. "Quem nunca pegou Covid e quem eventualmente não foi vacinado são as pessoas que têm maior probabilidade de ter uma evolução pior. Isso é uma possibilidade, não é uma coisa certa, mas pode acontecer", lembra o infectologista.
O Brasil pode chegar a números alarmantes, como em 2021?
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Mesmo com esses pontos de atenção, os dois especialistas ouvidos pelo R7 não acreditam que o Brasil volte a viver situações parecidas com o auge da crise sanitária de 2021.
"Hoje, a Covid é uma doença menos grave do que era no começo, e a tendência é ficar cada vez menos grave. Nos surtos da Ômicron, aumentou pouco o percentual de pessoas que são internadas, vão para a UTI, têm complicações e morrem, e isso tem a ver com a vacinação e com as infecções prévias", explica Max Lopes.
Waldman lembra ainda que o mundo vai ter de aprender a conviver por um bom tempo com a Covid.
"É muito pouco provável que tenhamos situações parecidas com as vividas por nós em 2021 e 2020. Mas não é impossível, pois pode surgir uma variante que leve a casos graves. O Sars-CoV-2 veio para ficar. A questão é que temos de nos acostumar com a doença, mas também com os cuidados. É possível conviver, mas é necessário manter os cuidados", finaliza o epidemiologista.
Fonte: https://noticias.r7.com/saude/por-que-a-covid-19-ainda-preocupa-os-especialistas-no-brasil-17012023