Indicado para o BC, Galípolo diz que não cabe a um economista 'impor o destino' de um país
Escolhido por Lula para a Diretoria de Política Monetária do Banco Central, ex-secretário da Fazenda foi sabatinado por Comissão do Senado. Colegiado também analisa a indicação de Ailton Aquino. Sabatinas ocorrem em meio a críticas do governo ao BC e à taxa de juros. Gabriel Galípolo, que foi indicado pelo governo Lula para a Diretoria de Política Monetária do Banco Central Pedro França/Agência Senado O ex-secretário do Ministério da Fazenda Gabriel Galípolo afirmou nesta terça-feira (4) que não cabe a um economista "impor o que ele entende ser o destino econômico" de um país, sem considerar a "vontade democrática" da classe política eleita pelo povo. Indicado pelo governo Lula para a Diretoria de Política Monetária do Banco Central, Galípolo deu as declarações durante sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. As sabatinas de Galípolo e de Ailton de Aquino Santos – que foi indicado para a Diretoria de Fiscalização do Banco Central – ocorrem em meio a fortes críticas de Lula e integrantes do governo ao presidente da instituição, o economista Roberto Campos Neto, e à taxa básica de juros, a Selic, definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do BC. "Durante muito tempo, acho que nós economistas utilizamos a necessidade da discussão técnica para tentar interditar o debate econômico ou a economia como um espaço para a vontade democrática ou para o debate público. Não cabe a nenhum economista, por mais excelência que ele tenha, impor o que ele entende ser o destino econômico do país à revelia da vontade democrática e de seus representantes eleitos”, afirmou Galípolo à CAE. "Talvez seja preciso se entender que é óbvio que é o poder eleito democraticamente, a vontade das urnas, que determina qual é o destino econômico da nossa sociedade", frisou o indicado. Questionado sobre a autonomia do Banco Central, aprovada pelo Congresso, Galípolo afirmou que não cabe a diretores da instituição opinar sobre a medida, mas apenas acatar a legislação. Após a sabatina, a CAE votará as indicações, que, depois, seguirão para o plenário do Senado, ao qual cabe a palavra final sobre o tema. Além de Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e diversos ministros, entre os quais Fernando Haddad (Fazenda) e Carlos Fávaro (Agricultura), têm feito essas críticas à taxa de juros. No entendimento do governo, a Selic no patamar atual, de 13,75% ao ano, inibe investimentos e prejudica o crescimento da economia. Déficit de servidores Indicado para a Diretoria de Fiscalização do Banco Central, Ailton de Aquino Santos disse que o setor tem enfrentado uma diminuição no número de servidores na última década. "Não houve aumento do quadro de servidores. Pelo contrário, há 10 anos tínhamos na área de supervisão 1.100 servidores, hoje não chega a 650. Quase um terço desses podem se aposentar ou estão aptos a se aposentar no próximo ano. A média de idade da área de supervisão gira em torno de 50 anos, padrão no restante do Banco Central", disse. Ailton, que, se for aprovado pelo Senado, será o primeiro negro a ocupar um cargo na diretoria do BC, também defendeu aumento na remuneração dos funcionários da instituição. "Impraticável manter a excelência sem recursos humanos em número, grau, expertise e níveis remuneratórios compatíveis com as responsabilidades alocadas à autarquia. Esses são pontos que precisam ser equacionados", disse. Cenário político A análise dos indicados também acontece em meio a um cenário político em que o Congresso Nacional discute o chamado novo arcabouço fiscal, conjunto de medidas propostas pelo governo para tentar equilibrar as contas públicas. O novo marco fiscal substitui o teto de gastos e, em linhas gerais, desvincula o crescimento das despesas da União à inflação e passa a vinculá-lo ao crescimento da arrecadação. O governo argumenta que o novo arcabouço permite equilibrar as contas públicas, garantir investimentos e, ainda, reduzir a taxa de juros. O texto já passou pela Câmara, mas, como foi alterado pelos senadores, deve ser analisado novamente pelos deputados. A expectativa do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é votar o projeto ainda nesta semana. Os indicados Gabriel Galípolo é formado em ciências econômicas e até, então, exercia a função de secretário-executivo do Ministério da Fazenda. Isto é, Galípolo era o "número dois" na hierarquia do ministério, atuando como "braço-direito" do ministro Fernando Haddad. Ailton Aquino, por sua vez, é servidor do próprio Banco Central.
Escolhido por Lula para a Diretoria de Política Monetária do Banco Central, ex-secretário da Fazenda foi sabatinado por Comissão do Senado. Colegiado também analisa a indicação de Ailton Aquino. Sabatinas ocorrem em meio a críticas do governo ao BC e à taxa de juros. Gabriel Galípolo, que foi indicado pelo governo Lula para a Diretoria de Política Monetária do Banco Central Pedro França/Agência Senado O ex-secretário do Ministério da Fazenda Gabriel Galípolo afirmou nesta terça-feira (4) que não cabe a um economista "impor o que ele entende ser o destino econômico" de um país, sem considerar a "vontade democrática" da classe política eleita pelo povo. Indicado pelo governo Lula para a Diretoria de Política Monetária do Banco Central, Galípolo deu as declarações durante sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. As sabatinas de Galípolo e de Ailton de Aquino Santos – que foi indicado para a Diretoria de Fiscalização do Banco Central – ocorrem em meio a fortes críticas de Lula e integrantes do governo ao presidente da instituição, o economista Roberto Campos Neto, e à taxa básica de juros, a Selic, definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do BC. "Durante muito tempo, acho que nós economistas utilizamos a necessidade da discussão técnica para tentar interditar o debate econômico ou a economia como um espaço para a vontade democrática ou para o debate público. Não cabe a nenhum economista, por mais excelência que ele tenha, impor o que ele entende ser o destino econômico do país à revelia da vontade democrática e de seus representantes eleitos”, afirmou Galípolo à CAE. "Talvez seja preciso se entender que é óbvio que é o poder eleito democraticamente, a vontade das urnas, que determina qual é o destino econômico da nossa sociedade", frisou o indicado. Questionado sobre a autonomia do Banco Central, aprovada pelo Congresso, Galípolo afirmou que não cabe a diretores da instituição opinar sobre a medida, mas apenas acatar a legislação. Após a sabatina, a CAE votará as indicações, que, depois, seguirão para o plenário do Senado, ao qual cabe a palavra final sobre o tema. Além de Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e diversos ministros, entre os quais Fernando Haddad (Fazenda) e Carlos Fávaro (Agricultura), têm feito essas críticas à taxa de juros. No entendimento do governo, a Selic no patamar atual, de 13,75% ao ano, inibe investimentos e prejudica o crescimento da economia. Déficit de servidores Indicado para a Diretoria de Fiscalização do Banco Central, Ailton de Aquino Santos disse que o setor tem enfrentado uma diminuição no número de servidores na última década. "Não houve aumento do quadro de servidores. Pelo contrário, há 10 anos tínhamos na área de supervisão 1.100 servidores, hoje não chega a 650. Quase um terço desses podem se aposentar ou estão aptos a se aposentar no próximo ano. A média de idade da área de supervisão gira em torno de 50 anos, padrão no restante do Banco Central", disse. Ailton, que, se for aprovado pelo Senado, será o primeiro negro a ocupar um cargo na diretoria do BC, também defendeu aumento na remuneração dos funcionários da instituição. "Impraticável manter a excelência sem recursos humanos em número, grau, expertise e níveis remuneratórios compatíveis com as responsabilidades alocadas à autarquia. Esses são pontos que precisam ser equacionados", disse. Cenário político A análise dos indicados também acontece em meio a um cenário político em que o Congresso Nacional discute o chamado novo arcabouço fiscal, conjunto de medidas propostas pelo governo para tentar equilibrar as contas públicas. O novo marco fiscal substitui o teto de gastos e, em linhas gerais, desvincula o crescimento das despesas da União à inflação e passa a vinculá-lo ao crescimento da arrecadação. O governo argumenta que o novo arcabouço permite equilibrar as contas públicas, garantir investimentos e, ainda, reduzir a taxa de juros. O texto já passou pela Câmara, mas, como foi alterado pelos senadores, deve ser analisado novamente pelos deputados. A expectativa do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é votar o projeto ainda nesta semana. Os indicados Gabriel Galípolo é formado em ciências econômicas e até, então, exercia a função de secretário-executivo do Ministério da Fazenda. Isto é, Galípolo era o "número dois" na hierarquia do ministério, atuando como "braço-direito" do ministro Fernando Haddad. Ailton Aquino, por sua vez, é servidor do próprio Banco Central.